Quando o senhor Barcellos entrou no palco,todos os olhares se voltaram para ele.Antes até do que isso,muito antes,na humilde descrição dos seus anos de carreira e seus feitos conquistados.No anuncio de que ele entraria ao palco,só se via olhos famintos de busca por informação.Após a sua entrada,muitos desses olhos tiveram uma só visão.
Se transformaram em adoração,respeito,e admiração.Um desses olhares,confesso,era o meu.Mas enquanto todos os outros tentavam de alguma forma ter algum tipo de contato com ele,eu me mantive presa a minha cadeira,os meus olhos presos aos dele,os meus ouvidos presos as suas palavras.
Durante quase 3h de palestra não me permitir nem sequer um único comentário,quase não piscava,não queria me atrever a perder nem um detalhe.
Enquanto Caco contava mais uma de suas historias,e talvez essa seja a que mais encante ouvintes:a sua própria historia,da educação que recebeu por padres,de como só soube o que era uma escola aos 9 anos de idade,e de como seu pai,lhe deixou uma lição valiosíssima sobre conduta ética e sobre não se deixar seduzir pela corrupção.
O contador de historias deixou claro a sua preferência de visão de qualquer tipo de situação:ele gosta de mostrar o lado do perdedor.E nos chocou com uma revelação,sobre o perdedor do ano de 2007 nos jogos Pan-Americanos;1350 pessoas mortas pela Tropa de Elite do Rio de Janeiro,para garantir a segurança dos jogos.Só que o que não foi contado a população é que eles em sua maioria eram inocentes,negros,e jovens.Quase o triplo de pessoas mortas no Brasil durante os 24 anos de ditadura.E Caco deixa ainda uma questão no ar:quantos ainda irão morrer pelas Tropas de Elite para que ocorra com "segurança" a copa do mundo e a olimpíada?mais quantos inocentes? e durante quanto tempo ainda os jornalistas desse pais se deixaram acovardar e não divulgaram a veracidade das noticias que um dia juraram fazer?
Sai daquela palestra uma pessoa bem melhor,uma estudante de jornalismo com muito mais esperança,com meu espírito de revolucionaria alimentado e com mais certeza ainda que quem escolhe essa carreira tem que renunciar a defesa de interesses pessoais e servir a algo muito maior:a verdade irrevogável dos fatos,sem levantar bandeira,visando o bem geral dos mais necessitados.Tendo em mente que em nada somos diferentes deles,apenas sabemos primeiro e consequentemente nos divertimos primeiro,ou sofremos.
Que temos sempre que ser corajosos,independente do risco inerente,e que para enfrentarmos o medo é preciso captar informação de verdade.Quando entendemos o papel de cada um na historia,adquirimos força e coragem para fazer o que cabe a nós jornalistas fazermos.
Deixo aqui então o mesmo conselho que o Srº Barcellos nos deu:"Aos futuros jornalistas aqui presentes,eu só tenho um conselho a dar:tenham vergonha na cara!"
Chayenne Guerreiro
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